Nesta época é certo encontrarmos vários posts e artigos que remetem às previsões de um futuro que, como sabemos, é difícil de prever, mais ainda de controlar. Olhando pelo retrovisor, somos capazes de refletir sobre o que passou e que, talvez, traga consequências no tempo a seguir; num olhar pelo para-brisa, nossa visão turva confunde-se com a velocidade e a neblina que a viagem nos oferece.
Considerando o nosso tema de inovação em governo, como a velocidade de decisões é variável mas predominantemente lenta, contrapondo-se à velocidade da tecnologia e da organização social, estas céleres e descompassadas, temos a oportunidade de avaliar algumas tendências a serem confirmadas ao longo deste ano, baseadas no retrovisor, no para-brisa e na velocidade dos principais motores da inovação, levando em conta essas contradições.
Governo Aberto, além do Accountability
Os Dados Abertos Governamentais, ou ainda Open Gov, é um movimento que deve atingir em breve a escala mundial, com as iniciativas do Open Government Partnership e do Open Development Technology Alliance, este com o apoio do Banco Mundial e outros parceiros, elevando rapidamente a disponibilização de informações do governo.
Entretanto, sem deixar de lado a prioridade da transparência e prestação de contas que costumam encabeçar as justificativas de projetos em governo aberto, deve evoluir nessa tendência a necessidade de que todas as bases de dados governamentais sejam disponibilizadas para a sociedade, a fim de que sejam construídos mashups e novos serviços eletrônicos por pesquisadores e programadores, fortalecendo outra tendência que é o...
Crowdsourcing, o uso da inteligência coletiva
A melhoria dos serviços de governo se dará com a ampliação da participação social e o compartilhamento de gestão, na criação de novos serviços eletrônicos baseados em informações oficiais que convergirão para plataformas web 2.0 de forma dinâmica e disseminada.
Exemplos como o Ushahidi estarão mais presentes em nosso ambiente virtual, assim como meios de financiamento coletivo, o crowdfunding, como o Cartase, servirão de trampolim para o desenvolvimento de projetos que, de outra forma, jamais sairiam das gavetas ou das cabeças desses pessoas, que deverão também criar produtos que preencham a lacuna de...
Serviços Públicos Móveis,
Que frequenta a lista de tendências há uns seis anos, mas sempre deixa a desejar. Buscamos no m-gov uma nova mídia de serviços que considera a mobilidade do cidadão e a facilidade de prestar serviços móveis, porém obstáculos como o valor das tarifas na telefonia celular, assim como a pequena base de smartphones, foram capazes de rotular esses serviços móveis como dirigidos à elite, o que não é verdade, como bem defendido por Tão Gomes em artigo na Carta Capital.
A julgar pelo crescimento da base de smartphones no Brasil e o fortalecimento da tendência anterior do crowdsourcing, surge outra oportunidade para o m-gov virar realidade, com ações como a do RioIdeias e a BigApps temos bons exemplos a serem seguidos, com espaço também para que se criem...
Serviços Públicos nas Redes Sociais, o s-Gov,
Algo que já havíamos comentado aqui e que deve empolgar os desenvolvedores de governo nos próximos meses.
Podemos imaginar a instalação de pequenos programas para a prestação de serviços ao cidadão que funcionem como aplicativos dentro das redes sociais, ou ainda criar comunidades de atendimento e entendimento de problemas e dúvidas de cidadãos, ou mais, considerar o login do cidadão em alguma rede social o suficiente para que acesse a algumas aplicações de seu interesse exclusivo.
O avanço de serviços públicos nas redes sociais, assim como em aplicativos móveis, por serem diretos e específicos, devem provocar uma boa mudança nos formatos de portais de governo, tendendo aos....
Mega Portais de Governo
Nossas principais referências a esse modelo estão na Inglaterra e no Estado de Utha, sendo que o primeiro está em testes e o segundo ainda deve ajustar o que vem "além da home".
Reunindo todas as informações e serviços voltados ao cidadão, estudantes, funcionários, turistas, residentes, empresas e o próprio governo, em um único espaço, com a valorização do mecanismo de busca, do look and feel e da inovadora arquitetura de informação, a fim de tornar-se o verdadeiro - e não apenas principal - site do governo, eliminando reproduções institucionais que geralmente Secretarias e Agências governamentais prezam em mostrar, mas focando na objetividade da prestação do serviço, bem como no tratamento que a linguagem governamental deve sofrer para ser compreendida por qualquer um, o que nos leva a prever o início do...
Fim do Governês
Já sabemos há muito que a linguagem rebuscada e quase codificada utilizada pelos órgãos de governo - e pela iniciativa privada também - é uma ameaça constante à democracia, à transparência e aos bons serviços. Escrevemos aqui um pouco sobre isto e temos assistido a iniciativas encorajadoras, como a do Center of Plain Language americano e do PlainLanguage.Gov, que dão o real valor ao uso e acesso a linguagem, inclusive este último já oferece cursos aos funcionários públicos responsáveis por redação governamental. Veja que excelente explicação nos dá a portuguesa Sandra Fisher-Martins, que apresentou no TedXPorto o tema O Direito a Compreender.
Parece pouco ou sem muita relevância, mas o foco no cidadão, no usuário de serviços públicos, sejam eletrônicos ou presenciais, é fundamental e engloba, além da disponibilidade dos meios, a facilidade e utilidade desses serviços, que devem ser revisados por metodologias como o...
Design Thinking,
Que entre as etapas, está a de empatizar, algo que todo servidor público deveria praticar. O Design de Serviços Públicos, como estamos por aqui chamando o Design Thinking aplicado a governo, começou a lançar suas primeiras bases em 2010, quando comentamos sobre suas vantagens e o trabalho feito pela IDEO para os governos em todo o mundo.
É uma tendência que creio das mais bem-vindas e melhores propulsoras à inovação em governo, tanto por sua simplicidade quanto por seus resultados. Leia esta tradução de um artigo do The Guardian, que trata sobre como o design pode ajudar os governos.
Dessas sete tendências interligadas, espero que todas se confirmem e se aprofundem em nossas agências de governo, formando uma pauta - talvez comum - de metas na administração pública, que conduzam à inovação e melhores serviços. Bom Ano!
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