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Laboratório é problema, mas a governança ajuda a resolver

É preciso considerar que um laboratório de inovação pode atrair pessoas que desprezam as regras, não tanto por rebeldia, mas como um estilo de vida, um espírito independente que busca ocupar um espaço. O lab será visto como um oásis – ou miragem – no deserto de novas ideias das corporações.

Em parte isso é justificado pela aura de criatividade que envolve o novo ambiente ao transmitir uma mensagem de liberdade, com suas técnicas de ideação que estimulam a distância dos valores burocráticos e, claramente, a palavra disruptura que carrega um certo rompimento com padrões.

Isso cria alguns problemas iniciais para a organização que começa o funcionamento do laboratório, tais como:
  • se outras organizações participarão do laboratório, alguns ajustes serão necessários;
  • a segurança física/predial pode ser fragilizada com a presença de “gente de fora”;
  • a segurança digital terá que se adequar ao ambiente de acesso irrestrito e wifi;
  • os horários de funcionamento podem sofrer mudanças radicais, como equipes que quiserem avançar pela madrugada;
  • possíveis divergências com as rotinas trabalhistas;
  • áreas internas que desejarem usar o laboratório para reuniões convencionais;
  • a desobediência fazer parte da cultura; e
  • a inovação ainda não fazer.
Parecem menores e até insignificantes problemas dessa natureza serem capazes de assombrar o andamento de projetos inovadores, mas são coisas assim que podem atrapalhar uma decolagem sem traumas.


Os cuidados na montagem do laboratório que poderão afastar esses riscos de interpretação do espaço fazem parte da governança, com o propósito de institucionalizar regras e disciplinas adequadas ao novo ambiente e às pessoas, antecipando respostas às seguintes perguntas:
  • Como o laboratório pode ter a flexibilidade para testar e avaliar serviços com o usuário?
  • Está de alguma forma expressa ou tácita a aceitação de testes e erros?
  • Já foram mapeadas as redes relevantes existentes? Qual o ecossistema?
  • Já foram mapeadas as fontes e os dados de observação contínua para o laboratório? (p. exemplo: dados abertos do governo, dados das agências, acordos bilaterais com outros laboratórios e esferas, acordos com empresas privadas, uso de Big Data etc)
  • Existe uma noção de como o laboratório terá acesso ou interagirá com essas redes e bases de dados?
  • Será que os mecanismos de governança fornecem autoridade suficiente ao laboratório para fazer coisas novas?
  • As pessoas envolvidas na governança do laboratório têm familiaridade e conhecimento prático das metodologias, técnicas e abordagens que serão utilizadas? Terá laboratoristas especializados em quais técnicas?
  • Pode o grupo de governança incluir ou dar acesso a reconhecidos especialistas que podem atestar e colaborar com essas técnicas?
  • Como se formará a Programação/Agenda do laboratório? (p. exemplo: indicações de dirigentes, demandas de entidades, sugestões dos cidadãos/sociedade, iniciativas internas etc)
  • Como serão avaliados os impactos de sua ação?

De fato, este checklist fazemos logo após termos respondido às questões projetuais.
Já dissemos antes que a meta final de um lab é a autoexplosão, não suicida, mas uma atomização de seus valores, métodos, técnicas e ambiente para todo o seu entorno, de modo a acontecer uma ressignificação do trabalho em grande escala, onde trabalhar em projetos multidisciplinares seja a nova rotina e representem não só a abordagem completa de problema e solução, mas também um aprendizado contínuo e social no trabalho. O laboratório, mais do que abrir portas, derrubará suas paredes para contagiar a organização e todos que quiserem um trabalho desafiador e colaborativo.
Mas talvez isso seja apenas uma miragem.


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