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Localismo à Inglesa

Localismo não é um conceito novo, mas aqui no Reino Unido está bem na moda, graças à agenda da Big Society, já discutida em outro post. Para a Aliança Conservadores – Democratas Liberais o Localismo é um dos principais elementos (ou enablers) da Grande Sociedade. Mas a ideia do Localismo é mais neutra de um ponto de visto político-partidário, que tem sido usada para defender diferentes políticas públicas, e no passado já foi até considerada como uma possível bandeira eleitoral para Tony Blair.
No momento o projeto de lei do localismo está sendo debatido no Parlamento (aliás, vale dar uma olhada no site, especialmente na didática explicação sobre seu funcionamento). Se aprovada, esta lei irá mudar o equilíbrio de poder entre governo central, governos locais e cidadãos britânicos.

Existem diversas definições do que é Localismo, mas em síntese trata-se de uma preponderância de soluções locais, desenvolvida por grupos relativamente menores e geograficamente próximos, em oposição a decisões tomadas por um organismo central e distante. Alguns pontos característicos são:

Do ponto de vista da gestão pública, o Localismo apresenta um dilema, no sentido de que é difícil apoiar soluções locais e ao mesmo tempo atingir impacto nacional. A Nesta, uma interessante instituição não governamental dedicada a fomentar inovação em organizações públicas e privadas no Reino Unido, publicou em 2010 o relatório Mass Localism, ou Localismo de Massa. O relatório sugere que para alcançar resultados positivos em desafios sociais complexos, com um grande componente comportamental, como por exemplo em saúde pública, é importante que o governo estabeleça mecanismos de apoio a iniciativas comunitárias. Essa recomendação da Nesta me fez lembrar da Rede de Projetos do AcessaSP, que tem uma abordagem similar.

Uma outra discussão interessante em torno desse tema é o hiperlocalismo, expressão usada especialmente no contexto de mídias sociais. Trata-se do desenvolvimento de comunidades virtuais ligadas a uma vizinhança. Pra dar uma referência paulistana, uma solução desenvolvida para a região da sub-prefeitura de pinheiros seria um exemplo de localismo, enquanto a comunidade no Facebook dos frequentadores do Clube Pinheiros seria um exemplo de hiper-localismo. Mas também caem na categoria do hiper-localismo o jornalzinho da vizinhança, uma rádio ou tv comunitária, ou blogs.
Aqui no Reino existem uma série de iniciativas para fomentar o desenvolvimento de website hiper-locais, como a Social Media Surgery, e o Talk about Local , bem como para fomentar o uso do hiperlocalismo por governo locais, como o Local by Social . Uma pesquisa da consultoria Networked Neighbourhoods sumariza os impactos de alguns destes sites comunitários.
Basicamente, o hiper-localismo colabora para o fortalecimento de comunidades, o desenvolvimento de um canal de relacionamento através do qual serviços públicos podem contatar cidadãos de uma forma segmentada, e potencialmente o fortalecimento de um senso de responsabilidade social e cidadania. Ou no mínimo, um senso de boa vizinhança.



Publicado também no Observatório do Conhecimento.

Comentários

Caio Zaplana disse…
Olá Isabel!

O Localismo parece ser uma forma melhor de resolver os problemas da população, a partir de soluções para os problemas, dividindo-os em micro regiões. Acredito que esse tipo de prática pode trazer maior eficiência e agilidade para as políticas públicas, desde que a administração dessas "micro-regiões" tenham autonomia para resolver esses problemas.

Ótimo texto! Comecei a acompanhar o blog recentemente e estou gostando muito.

Um abraço
Olá Caio, o localismo pode ser sim uma solução interessante, desde que tenha um orçamento associado que permita às comunidades investir nas soluções desenvolvidas. É também importante não perder de vista questões de igualdade de oportunidades, já que a representatividade na administração dessas micro-regiões pode ser viesada. Mas concordo que o localismo pode ter um efeito bastante positivo em termos de envolvimento de cidadãos na administração pública.
Obrigada pelo comentário!
Isabel.

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