Pular para o conteúdo principal

A FACE MAIS SOMBRIA DA INOVAÇÃO

Fonte da Ilustração: http://makeadiff.in/blog/



Em minha postagem anterior, falei a respeito da inédita importância conferida ao tema inovação e sobre a minha sensação de que os holofotes que para ela apontam não mais serão desligados.



De fato, por ser uma questão vital para a sobrevivência de países e organizações, descarto a hipótese de que preocupação dedicada ao tema possa sofrer qualquer tipo de apagão, doravante. Por outro lado, quando se examina a questão da inovação de forma mais detalhada, observa-se que, à semelhança de alguns campos de futebol, a iluminação conferida à questão é bastante desigual. Em certos lugares mal se enxerga a bola.



É sobre um desses setores pouco iluminados, a inovação em gestão, que eu gostaria de falar hoje.



As organizações modernas, com raras e honrosas exceções, pouco tem inovado, quando se fala em métodos e técnicas dedicados a aumentar o capital e a produtividade. Passados mais de cem anos, Taylor, Ford e Fayol continuam dando as cartas.



Esta limitação amortece o impacto das novidades tecnológicas, principalmente daquelas vinculadas as tecnologias da informação e comunicação, fazendo com que o novo seja utilizado de forma velha. A famosa metáfora do uso do canhão para matar barata, pode ser trazida para os dias atuais como usar o computador para fazer contas.



A subida de umas poucas empresas criativas que praticam um jeito pós industrial de trabalhar, começa, no entanto a incomodar organizações líderes e, consequentemente, trazer à baila a questão da inovação em gestão.



Isto explica, ao nosso ver, o surgimento na London Business School do primeiro Laboratório de Inovação em Gestão, comandado pelo professor e pesquisador Gary Hamel.



A entrevista concedida por Hamel na mais recente edição da revista HSM Management, ajuda a entender melhor o foco desse laboratório. Segundo o pesquisador, a inovação pode ser desdobrada em quatro grandes tipos: social, institucional, tecnológica e a de gestão.



O primeiro, trata dos avanços que nos ajudaram a construir as sociedades modernas, marcadas pelo pluralismo e pela diversidade. A inovação institucional tem nos garantido avanços encontrados na legislação empresarial e no regime de patentes, por exemplo. A terceira modalidade, relativa à inovação tecnológica é a mais “iluminada”. Ela é que nos garante um fluxo contínuo e crescente de produtos, como os telefones celulares e os filmes em 3D, por exemplo, e serviços altamente sofisticados, como os de tv à cabo em alta definição, só para mencionar um deles.



O quarto tipo de inovação, objeto de trabalho do laboratório, é dedicada a gestão. De acordo com Hamel, esta é a modalidade onde menos se tem inovado.



Isto começa a mudar com a percepção, ainda incipiente é certo, de que, com a profusão de novas tecnologias, haverá sempre um concorrente surpresa, escondido em algum lugar do mundo, disposto a fazer as coisas de sempre a um custo muito menor, ou, o que é mais devastador, pronto a trazer para o mercado novos produtos ou serviços sequer cogitados pelos que estão lá em cima.



Do ponto de vista das organizações, governo incluído, a tendência, que ora se esboça, mostra que a raiz do problema não está em fazer funcionários trabalharem mais ou mais rápido e sim em torná-los mais criativos. Neste novo campo de batalha, excessos burocráticos, hierarquias rígidas e controles tradicionais são armas com pouco poder de fogo.



Atento à importância da criatividade, o modelo de gestão proposto pelo laboratório comandado por Hamel está assentado em três princípios básicos: liberdade, variedade e lógica de mercado. A liberdade, em contraponto ao controle que vem de cima, significa conferir a cada unidade a autonomia para tomada de decisões, trazendo para os funcionários o sentimento de donos da empresa.



A variedade aponta para a adoção da experimentação de coisas novas, a todo instante, em detrimento de estratégias rígidas para dez ou mais anos, cuja efetividade fica comprometida pela incerteza e a rápida mudança que marcam os dias atuais. Por fim o princípio da lógica de mercado preconiza a força das redes sobre a visão hierárquica.



Não há dúvida que as mudanças propostas neste modelo de gestão não se aplicam em um piscar de olhos, por vontade de poucos. Há mais de cem anos trabalhamos segundo um jeito industrial de ver as coisas, onde a hierarquia, a padronização, os ganhos de escala, o cumprimento de ordens, a disciplina eram sinônimos de bom resultado.



O grande ensinamento deste novo modelo, ainda em construção, não está na segurança dos passos a seguir, mas na indicação precisa de que certos remédios que antes tinham grande poder de cura podem, agora, matar o paciente.



Lembrem-se, em não desaparecendo os sintomas, uma nova gestão deverá ser procurada.

Comentários

Parabéns pelo post. Gostei muito da sua afirmação "Do ponto de vista das organizações, governo incluído, a tendência, que ora se esboça, mostra que a raiz do problema não está em fazer funcionários trabalharem mais ou mais rápido e sim em torná-los mais criativos. Neste novo campo de batalha, excessos burocráticos, hierarquias rígidas e controles tradicionais são armas com pouco poder de fogo."

Acredito realmente nisso ! Tanto que tenho dedicado minha vida nos últimos anos a desenvolver competências para inovação em pessoas "normais" através da "Inovação Sistemática". Convido você a dar uma olhada no meu blog (http://www.arlima.com.br).

Sucesso !
Adriano R. de Lima
Caro Adriano,

Muito obrigado pelas suas observações. Tive oportunidade de visitar seu blog em (http://www.arlima.com.br) e, por ele, o do Clemente Nóbrega em (http://www.clementenobrega.com.br/Default.aspx). Para quem se interessa pelo tema inovação, recomendo a leitura de ambos. E mais, aproveitem e baixem, na faixa, o livro do Clemente, "Em busca da empresa quântica" em (http://www.clementenobrega.com.br/ebeq2008.pdf)

Postagens mais visitadas deste blog

Cinco Princípios para Novos Serviços Públicos. Terceiro: o Governo como Plataforma

A ideia de Tim O'Reilly ao criar o termo e a abordagem de Governo como Plataforma, foi dar uma perspectiva de valor de patrimônio e de uso aos dados governamentais. Inicia explicando que as plataformas seguem uma lógica de alto investimento, onde praticamente só o Estado é capaz de investir, mas permitem à população, ao utilizarem essa plataforma, gerar riquezas. Temos um claro exemplo ao pensar em uma rodovia como esse investimento. O governo a constrói, mas a entrega aos usuários para trafegarem seus produtos, serviços, passageiros, estimular turismo e economias integradoras etc.. Em outras palavras, uma plataforma rodoviária do governo, mesmo em concessão, será usada pela sociedade, mesmo a custo de pedágios. O mesmo serve para plataformas digitais. O governo americano durante a gestão Reagan, em 1983, tornou disponível ao mundo o Sistema de Posicionamento Global - GPS. A partir do uso mundial dessa plataforma podemos calcular quantos outros produtos e serviços foram gerado

Laboratório é problema, mas a governança ajuda a resolver

É preciso considerar que um laboratório de inovação pode atrair pessoas que desprezam as regras, não tanto por rebeldia, mas como um estilo de vida, um espírito independente que busca ocupar um espaço. O lab será visto como um oásis – ou miragem – no deserto de novas ideias das corporações. Em parte isso é justificado pela aura de criatividade que envolve o novo ambiente ao transmitir uma mensagem de liberdade, com suas técnicas de ideação que estimulam a distância dos valores burocráticos e, claramente, a palavra disruptura que carrega um certo rompimento com padrões. Isso cria alguns problemas iniciais para a organização que começa o funcionamento do laboratório, tais como: se outras organizações participarão do laboratório, alguns ajustes serão necessários; a segurança física/predial pode ser fragilizada com a presença de “gente de fora”; a segurança digital terá que se adequar ao ambiente de acesso irrestrito e wifi; os horários de funcionamento podem sofrer mudan

Objetivos e valores do Laboratório de Inovação

Um laboratório de inovação em governo pode atuar desde a criação de novas políticas públicas até a prototipagem de serviços prestados ao cidadão. A diferença não se trata apenas de níveis da gestão (estratégica e operacional), mas também define o porquê deve existir o lab, sua estrutura, seus objetivos e quais valores irá agregar ao governo. Objetivar amplitude e formas de atuação nos ajuda a relacionar quesitos, estabelecer limites e buscar as parcerias certas. Antes de apresentar uma nova relação sobre os aspectos de construção do laboratório, como os aspectos projetuais colocados em post anterior , apresento uma lista que pode ajudar a definir com um pouco mais de formalidade e precisão, após respondido o checklist projetual , para que está sendo criado o laboratório e no que pode contribuir para um governo inovador. A ideia é de que usemos essa relação para selecionar aqueles itens que se aproximam com os objetivos do lab que pretendemos construir ou significar, mantendo em