Nas palavras de Peter Drucker, o grande mérito da gestão ao longo do século XX foi o de elevar em 50 vezes a produtividade do trabalhador manual. As teorias desenvolvidas por Taylor, Ford, Fayol e seus seguidores, somadas às novas tecnologias usadas nas fábricas e escritórios, estão na raiz deste enorme salto.
O problema é que a simples extrapolação dessas práticas para as organizações do século XXI não será suficiente para mantê-las vivas. Isto por que, ainda de acordo com Drucker, o conhecimento, ao atingir o status de fator de produção número 1 em termos de geração de riqueza, mudou totalmente as regras do jogo corporativo, desafiando as organizações que queiram continuar fortes e competitivas a aumentar a produtividade do trabalhador do conhecimento, na mesma proporção conseguida para o trabalhador manual.
Isto traz um grande complicador, a mobilização para o trabalho intelectual requer a montagem de um novo "campo de batalha", totalmente distinto daquele criado para obter ganhos na produtividade do trabalho manual. Por ser muito recente, a percepção da necessidade de mudança ainda é muito desigual. Algumas poucas organizações, mais antenadas, já nasceram ou se recriaram em torno do conhecimento e da inovação. A maioria delas, no entanto, somente agora começa a pensar mais seriamente em como promover essa mudança e nos problemas a ela associados.
Um desses possíveis problemas, por exemplo, veio a tona em uma aula que ministrei recentemente. Ao comentar as características desse novo "campo de batalha", ouvi de uma aluna a seguinte questão: nesse novo ambiente organizacional, não precisaremos nos preocupar mais com a produtividade do trabalho manual?
Por ser um tema bem interessante, resumo aqui, a resposta que dei a ela.
Na minha percepção, o trabalho manual sem dúvida, continuará importante, mas também ele será impregnado de doses cavalares de conhecimento. Em outras palavras, a elevação da produtividade manual dependerá cada vez menos de "homens fazendo" e mais de "homens pensando".
Por mais barata que seja a mão de obra de baixa qualificação, haverá um momento, ainda neste século, no qual a realização de funções repetitivas, com baixa demanda intelectual, tornar-se-á exclusiva dos robôs e de sua turma - softwares e sistemas de informação - elementos bem comportados, de poucas palavras, que moram no emprego, não cobram vale-alimentação e não fazem greve, pelo menos até que os softwares neles carregados tornem-se mais inteligentes e conduzam-nos à sindicalização.
Este cenário, que parece ficção científica, está, no entanto, cada vez mais próximo, com implicações bastante nebulosas, que extrapolarão em muito a banal questão da produtividade organizacional, e sobre as quais nos atreveremos a conversar oportunamente. Por ora, recomendo a leitura desta reportagem da Folha de São Paulo, publicada no dia 27 de agosto de 2012.
Comentários