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A Valorização do Ato de Pensar

Na minha postagem anterior, escrevi que voltaria a falar tema design thinking para explicar melhor o que vem a ser esse “novo” método de trabalho e sobre os problemas associados a ele.

Comecemos pelas explicações.

De imediato, convém lembrar que o método não é tão recente assim - daí minha colocação de aspas na palavra novo. A evolução do conceito de design, que ao longo dos anos passou a ser entendido como um esforço mais funcional do que estético, somadas às rápidas mudanças da tecnologia e dos hábitos dos consumidores - para as empresas privadas, e dos cidadãos - para o setor público, fizeram com que o processo de criação de novos produtos e serviços ganhasse uma dimensão estratégica que, se negligenciada, poderia levar a perda de mercado, ou representatividade, no caso específico dos governos.
  
Este fato, por sua vez, fez com que muitos profissionais da área de design e de negócios, começassem, já há quase uma década, a repensar o processo criativo das organizações e a sistematizar esse esforço, por meio do estabelecimento de estágios e técnicas que incentivassem a inovação e facilitassem a criação de produtos e serviços relevantes.
O blog Noise Between Stations, de Victor Lombardi, dá uma boa visão dessa trajetória.
A IDEO, criada em 1991, representa, ao meu ver, a mais emblemática incorporação desses novos conceitos. A empresa que tem Tim Brown como presidente e Tom Kelley como gerente geral, já desenvolveu, nesse período, mais de 4 mil produtos utilizando o design thinking como método. Os sinais enviados pela IDEO foram, aos poucos, se multiplicando, abrindo mercado para o surgimento de diversas outras organizações alinhadas com esta filosofia de trabalho.

Dentre as diversas definições existentes sobre design thinking, destaco aqui justamente aquela esboçada por Tim Brown.

Segundo ele, design thinking é um processo multidisciplinar, centrado no ser humano, voltado para a inovação, que lança mão das ferramentas tradicionais de design para integrar o desejo das pessoas, as possibilidades tecnológicas e a viabilidade do negócio.

O caminho, ao longo desse processo criativo, envolve alguns procedimentos básicos:

  1. Definição clara do objeto a ser trabalhado. A quem interessa, grau de prioridade, fatores críticos para o sucesso;
  2. Conhecimento do problema. Envolve a pesquisa da história desse objeto, tentativas anteriores, apoiadores, lideranças, grupos de pressão, contatos com usuários finais;
  3.  Idealização. Compreende a identificação das necessidade e motivações dos usuários finais, a geração, sem censura, de idéias coerentes com as necessidades identificadas, utilizando brainstorming;
  4.  Prototipação. Etapa onde as idéias são sistematizadas e esboços de solução são apresentados a usuários finais, clientes e outros grupos de interesse;
  5. Seleção das idéias mais promissoras;
  6. Implementação. Contempla a definição e o planejamento das tarefas a serem executadas, a alocação de recursos, a distribuição de atribuições, e, por fim, a execução e entrega do produto;
  7.  Aprendizagem. Incorpora o mapeamento do retorno dos usuários e a verificação sobre o atendimento das expectativas formadas.
É errado pensar, no entanto, que a simples adoção mecânica desses procedimentos seja salvo conduto para o sucesso. Mais do que uma sucessão de procedimentos técnico-científicos, o design thinking alia o rigor do método matemático com habilidades tácitas vinculadas à capacidade de enxergar problemas e gargalos ocultos, de saber ouvir, de desatar nós, de estimular a criatividade e a ousadia, de vencer preconceitos e de achar interlocutores válidos. Por isso, é um método centrado no ser humano e na valorização, sem cessar, da capacidade de pensar.

Encerrando a trilogia sobre design thinking, em breve, falarei sobre os problemas a serem vencidos para a utilização deste método de trabalhar.

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