Pular para o conteúdo principal

Conhecimento: O peixe a ser pescado

O leitor habitual deste espaço já observou em postagens anteriores, que os governos, em maior ou menor escala, com maior ou menor grau de timidez, começam a adequar o perfil de suas administrações para os novos tempos do conhecimento e da inovação acelerada.

A criação do Ministério da Ciência e da Inovação, na Espanha, e da AMA – Agência para Modernização Administrativa, em Portugal, são dois exemplos concretos desta nova calibragem, ambos já abordados no iGovBR.

Vamos registrar, agora, mais um caso, o da Coréia do Sul. No início do ano, foi criado, lá, o Ministério da Economia do Conhecimento.

Por que será que uma nação, cujo crescimento econômico recente tem sido considerado exemplo de pujança, cria uma estrutura inovadora deste tipo? Por que será que um pequeno país asiático que saiu do sub-desenvolvimento da década 60 para a atual posição de 16° maior PIB - Produto Interno Bruto do mundo, está preocupado com este tema?

As informações disponíveis no site do Ministério da Economia do Conhecimento e as palavras colhidas no discurso de posse do titular da nova pasta , Lee Youn Hoe, dão algumas pistas para que possamos responder a estas duas questões. A criação novo órgão indica a percepção do governo coreano para o esgotamento de um modelo industrial baseado na energia fácil, na despreocupação com o meio ambiente e centrado, quase que exclusivamente no mercado externo.

Para superar este estrangulamento o novo ministério aponta como principais desafios:

- Diminuir regulações que dificultem a abertura de novos negócios e a atração de capitais externos;
- Privilegiar os segmentos de semicondutores, biotecnologia, tecnologia da informação e de novos materiais;
- Estimular atividades econômicas intensivas em conhecimento;
- Racionalizar o uso de recursos energéticos não renováveis;
- Promover internacionalmente o design industrial coreano;
- Fortalecer os negócios internos não vinculados às exportações.

A criação do novo ministério e esta carta de intenções mostram que o governo coreano está atento às mudanças globais e sabe que, hoje, mais do que nunca, uma nação, por mais bem sucedida que seja, não pode ser dirigida apenas olhando para o retrovisor.

Por outro lado, está claro, para nós, que simples mudanças nos organogramas públicos não bastam para colocar uma nação na trilha do desenvolvimento sustentado. Isto seria simplificar muito a questão. Uma penada bastaria, neste caso, para enriquecer todos os países.

No caso coreano, por exemplo, medidas estratégicas de fundo, como a erradicação do analfabetismo, que atingia um 1/3 dos moradores nos anos 60, e a disponibilidade de uma mão de obra de alta qualidade - cerca de 80% da população atual possui grau universitário - criaram condições para que sonhos mais altos possam, agora, sair do papel.

O Brasil, que ainda não fez essa lição de casa, deve apressá-la se quiser ser, de fato, um país rico e socialmente justo. Paralelamente, suas estruturas governamentais devem estar mais antenadas com esses novos tempos e sinalizar para os investidores nacionais e estrangeiros que país queremos construir.

Neste ponto, a recente criação, no Brasil, do Ministério da Pesca e Aqüicultura oferece um triste contraponto ao exemplo coreano.

Comentários

Anônimo disse…
Ifelizmente, a Administração Pública Brasileira ainda emperra em normas e e estruturas que favorecem a vulnerabilidade do profissional ao pessoal. Em uma palavra, os procedimentos técnicos e lógicos são deixados de lado em favor da vontade política e eleitoreira.

Postagens mais visitadas deste blog

Cinco Princípios para Novos Serviços Públicos. Terceiro: o Governo como Plataforma

A ideia de Tim O'Reilly ao criar o termo e a abordagem de Governo como Plataforma, foi dar uma perspectiva de valor de patrimônio e de uso aos dados governamentais. Inicia explicando que as plataformas seguem uma lógica de alto investimento, onde praticamente só o Estado é capaz de investir, mas permitem à população, ao utilizarem essa plataforma, gerar riquezas. Temos um claro exemplo ao pensar em uma rodovia como esse investimento. O governo a constrói, mas a entrega aos usuários para trafegarem seus produtos, serviços, passageiros, estimular turismo e economias integradoras etc.. Em outras palavras, uma plataforma rodoviária do governo, mesmo em concessão, será usada pela sociedade, mesmo a custo de pedágios. O mesmo serve para plataformas digitais. O governo americano durante a gestão Reagan, em 1983, tornou disponível ao mundo o Sistema de Posicionamento Global - GPS. A partir do uso mundial dessa plataforma podemos calcular quantos outros produtos e serviços foram gerado

Laboratório é problema, mas a governança ajuda a resolver

É preciso considerar que um laboratório de inovação pode atrair pessoas que desprezam as regras, não tanto por rebeldia, mas como um estilo de vida, um espírito independente que busca ocupar um espaço. O lab será visto como um oásis – ou miragem – no deserto de novas ideias das corporações. Em parte isso é justificado pela aura de criatividade que envolve o novo ambiente ao transmitir uma mensagem de liberdade, com suas técnicas de ideação que estimulam a distância dos valores burocráticos e, claramente, a palavra disruptura que carrega um certo rompimento com padrões. Isso cria alguns problemas iniciais para a organização que começa o funcionamento do laboratório, tais como: se outras organizações participarão do laboratório, alguns ajustes serão necessários; a segurança física/predial pode ser fragilizada com a presença de “gente de fora”; a segurança digital terá que se adequar ao ambiente de acesso irrestrito e wifi; os horários de funcionamento podem sofrer mudan

Cases de Design Thinking em Serviços Públicos fora do Brasil

É comum que me perguntem sobre cases de uso do Design Thinking pelos governos brasileiros, sejam municipais, estaduais ou federais. Há um certo "ver para crer" na pergunta, mas há também a necessidade de mostrar aos outros, incluindo chefes e tomadores de decisão, que existe um caminho mais promissor e realizável para tratar os desafios de hoje. Minha experiência aponta mais para aquilo que fazemos no Governo do Estado de São Paulo, desde 2010, quando adotamos o DT como abordagem metodológica para entender a complexidade e resolver problemas com foco no cidadão. Nesse período vimos crescer a utilização em grandes empreendimentos como Poupatempo, Metrô, Secretarias da Fazenda, de Desenvolvimento Social e da Educação. Alguns outros exemplos e cases nacionais no setor público podem ser encontrados na Tellus , que tem atuado bastante em prefeituras e especialmente nas áreas de saúde e educação. Mas neste post quero apenas apontar para alguns links daqueles que trabalham e